ventilador no 3 seria a "transfiguração ciclônica máxima do movimento do vento".
é a sensação de satisfação do tato, quando o que antes estava apenas molhado, dá lugar a criogênica vertigem "da centrífuga secante". é isso.

by me, Digesta Simmons

(cito Jaguadarte)

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

ultima noite de lua cheia.

Ela estava especialmente cheia, enorme, grande e majestosa, reinando no meio de um nada apenas pontilhado, aqui e ali, por uma dessas estrelas que a maioria nem lembra de contar. Lua de outubro, quase novembro!

— Tenho um presente para te dar. Vai até a janela e espia o céu.

— Que é que tem?

— Apenas vai e olha. Lá tem um presente que desde há muito queria te dar...

E sai sem dizer mais nada. Todo mundo pode dar uma lua cheia de presente ao coração de quem é ou foi importante pra gente. Sou desses que faz isso com alguma contumácia. Uma lua cheia, na moldura de um céu estrelado, mesmo reinando solitária, acanhada ou timidamente escondida por entre nuvens enxeridas, é um presente que qualquer um, por mais jovem, por mais inserido nesses contextos oportunistas do "ficar", não deixa de reparar, de se sentir tocado, lá onde a sensibilidade pulsa com alguma energia radiante.

— Que linda! Obrigado.

— Guarde essa lua, essa noite, esse luar. É o nosso derradeiro, faz parte da última paisagem de nós dois juntos. Como eu te prometi, era preciso sair de dentro de um lugar assim, de um beijo terno, de um abraço sincero, para seguir em paz o caminho que nossas vontades escolheram.

— Eu sei. Agora entendo o que significava "sair pela porta da frente".

— Pois é. O que dividimos juntos não merecia uma despedida como aquela, indiferente, fria, com olhares que beiravam o vulgar. Os contornos anatômicos das nossas entregas, os goles de volúpia que sorvemos juntos, ao som dos gritos e gemidos moleques, mereciam coisa melhor. Uma lua cheia, por exemplo. Agora você pode ir. Siga seu caminho, procure seu norte, sua tranqüilidade, sua paz. Tudo na vida tem um começo, um meio e um fim. Essa passagem já ficou por demais desbotada. Venho repetindo isso faz tempo. Mas o que é a vida, senão uma repetição de experiências, de pequenas vitórias, de muitos fracassos? Pior é não tentar nada. Posso não ter conseguido ser seu amor maior, mas estive dentro do seu melhor e mais ousado beijo; posso também não ter sido sua prioridade, mas foi ao meu encontro que você veio afogueado e ficou com audácia, despojado, leve e solto, caminhando nu entre as paredes do quarto, suave como uma sombra perfumada. São lembranças mais minhas que suas, que nem mesmo você poder apagar, mesmo que quisesse, nem com toda a fé do mundo ou a ajuda de qualquer milagre. Já aconteceram, estão aqui, dentro do meu coração. O mundo dá muitas voltas, as estrelas permanecerão no mesmo lugar e é bem possível que não saiam de lá nem daqui a muitos milhões de anos. Esse luar também, meu caro. Mas essa noite... Essa noite vai ficar na lembrança, gravada nos meus genes, como único cenário digno para uma despedida que só podia acontecer como finalmente aconteceu: numa noite de lua cheia! Pode ir por ali. Vou por aqui, por entre minhas estrelas, como sempre fui.

No fim.

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